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Olá,
no último fim de semana antes da quarentena aconteceu o Arruda Trail, quando vi a Célia subir ao pódio pensei - tenho que tentar que me responda a umas questões para o AW. E assim foi, andei a investigar um bocadinho e encontrei forma de a contactar.
Vou confessar que o tema corrida me fascina por ser para mim um mistério - como é que consegue cativar tantas pessoas e eu não consigo correr?
Perguntam vocês - já tentaste? Sim, já tentei, e continuo sem compreender o fascínio da corrida.
De forma, que passo palavra à Célia que é mais entendida neste assunto e me respondeu a umas perguntas:
AW- Como decidiu que a corrida era o seu desporto de eleição?
CH- Depois de um ano de sofrimento, dor e perda, altura em que não pratiquei qualquer tipo de atividade física, fiz uma tentativa de regressar ao ginásio, no entanto, aquele ambiente fechado rapidamente se tornou sufocante e insuportável. Precisava de “ar puro", de respirar. Surge então, por mero acaso, um convite de um amigo para um treino de corrida… Nesse dia fez-se o “clique”. A corrida não estava nos meus planos, não por não gostar, mas por nunca ter pensado a sério nisso. Fisicamente e psicologicamente houve uma certeza, o meu corpo reagiu bem e a minha mente muito melhor. Decidi: “É este o meu caminho!”
AW- Correr está na moda, no seu parecer existe algum motivo?
CH- Hoje em dia já somos muitos a praticar corrida estrada e Trail Running. Acredito que o fazem para libertar o stress e a agitação do dia a dia. Caminhar e correr é muito prazeroso. As pessoas vivem “sem tempo” fechadas no trabalho, nas compras, nos centros comerciais. A corrida trá-las para a rua para o contacto com a natureza, que ajuda a ganhar ânimo/energia para o dia seguinte. Sabemos que a corrida deixa as pessoas mais felizes, provoca alterações muito positivas no organismo, assim sendo, quem experimenta por algum tempo, normalmente fica.
AW- Há quanto tempo se dedica à corrida?
CH- Comecei a treinar no verão de 2015, só com o objectivo de sentir-me bem, com energia e feliz.
AW- Tem cuidados com a alimentação e estilo de vida para melhorar o seu desempenho? Pode revelar alguns?
CH- O cuidado com a alimentação já existia antes da corrida. Desde jovem sempre houve algum cuidado nessa área. Evito naturalmente os fritos e gorduras, tenho na minha vesícula uma ótima conselheira, não me deixa sair fora desta regra. Gosto de alguns doces, mas passo perfeitamente sem eles, só em “dias de festa!!!” O chocolate negro é exceção. Como muitos legumes e frutas. Utilizo muito as massas, quinoa, batata, batata doce, para ir buscar energia para as minhas atividades. Consumo as carnes brancas e peixe. O meu metabolismo é bastante acelerado, faço normalmente 5/6 refeições leves por dia. A minha refeição favorita é o pequeno almoço, onde utilizo frutas frescas, frutas desidratadas, sementes, vários cereais (aveia sempre), frutos secos, e até alguns legumes, em batidos, que se conjugam muito bem. É nessa refeição que vou buscar muita da minha boa energia. Tenho sempre uma variedade de cores nestes alimentos que me dá gozo conjugar, da forma que mais me apraz. Utilizo também polén de abelha, a spirulina, a maca, gengibre, açafrão, açaí… Estes são os meus segredos.
AW- Controla os tempos de corrida e estabelece metas? Desafiar os limites faz parte dos seus objetivos?
CH- O controle dos tempos não é uma coisa que me cause grande preocupação, mas tenho algum controle, sim! Naturalmente os meus tempos vão melhorando com os treinos. Tento perceber se estou em forma ou se ando a descurar um pouco, consigo perceber isso nos percursos repetidos, no tempo que levo para os concluir. Desafiar os meus limites, faço-o muitas vezes, sozinha. Também tento ser mais rápida se participo numa prova que já tenha feito anteriormente ... até porque já tenho uma ideia do que vou encontrar … sei que poderia ser desmotivador, que vai haver uma altura em que não é possível fazer melhor, até lá não me preocupa nada, essa aceitação é mais que natural. A minha atitude perante a corrida não é passar na frente de ninguém é superar-me! Ser capaz de completar o desafio com uma boa sensação. Se acabar bem classificada, ótimo! Se não acontecer, feliz igualmente. Tudo tem acontecido de forma natural e tão gratificante, que não posso pedir mais, procuro ser feliz com o que faço, só isto basta!
AW- Participa frequentemente em corridas organizadas? Pode mencionar alguma/s que a tenham marcado e porquê?
CH- Comecei em provas de estrada no final de 2016 e iniciei-me nas provas de Trail Running em final do ano 2017. Participei em 2018/2019 campeonato nacional de trail, conclui o circuito em 1.ª do meu escalão e 8.ª a nível nacional. Este ano 2019/2020 também estava em competição para o campeonato e para a taça de Portugal. Vou fazendo várias provas que não contam para o campeonato ATRP(Associação Trail Running Portugal) e quando tenho oportunidade faço estrada também, que me serve de treino, ganho experiência e divirto-me bastante. A prova que emocionalmente me marcou fortemente, foi a 3.ª Corrida de Alverca, 10 km estrada em maio 2017. Por estar a participar a convite de um amigo/irmão, a fazer parte da equipe dele. Nesse dia estava doente com febre, mas a vontade não me deixou ficar em casa… também e durante toda a prova o meu pensamento estar focado em quem gostaria que estivesse a torcer por mim. A 2 meses de fazer 47 anos, subi ali naquele lugar e naquela prova, pela primeira vez o pódio em 2.º lugar por escalão F45, 7.ª na geral feminina. Recebi a taça das mãos da Vanessa Fernandes. Não foi o prémio que me convenceu, foi tudo o que senti. Não foi fácil, mas foi possível! A minha estreia no Trail Running foi em Arruda no Pinga Trail em que fiz pódio em 1.ª na geral feminina, outra surpresa que não esperava, fica gravada na memória. Por ser em casa e por ser completamente inesperado ganhar. Também o Trail de Porto Moniz (Madeira) em 10 de janeiro de 2019, a primeira a contar para o campeonato ATRP, marcou pelo desafio, a distância mais longa e a prova mais dura que fiz até então, classifiquei-me em 2.ª no escalão. O convívio, as partilhas, por tudo isto fica nas mais marcantes. Depois tenho muitas outras, que pela beleza extrema que encontrei, por tudo o que desfrutei, dificuldades que superei, gente boa que fui conhecendo, travando amizades que vão ficando. É tão bom, por tudo que me é “oferecido”, fica a vontade de voltar sempre.
AW- Pertence a um grupo de corrida, pode dizer-nos quais as vantagens de correr em grupo e falar-nos um pouco sobre o grupo a que pertence?
CH- Em agosto de 2016, através de um amigo com quem treinava alguma vezes, soube da existência do Grupo Bruxos Runners – correr em Arruda, que me acolheram logo muito bem. O crescimento enquanto “atleta” de Trail Running, modalidade que pratico mais, não seria o que é se não fossem estes amigos e companheiros. As partilhas, os conselhos, a escolha das provas, com características mais ou menos favoráveis, os ensinamentos de quem já tem experiência em provas e treina em montanha, trilhos, tudo foi fundamental para os resultados que fui obtendo. Somos um grupo que se motiva mutuamente, praticamente sem apoios externos. Para mim as provas fazem sentido quando vamos em grupo para nos divertirmos a fazer o que gostamos, vibrar com as conquistas uns dos outros. Gosto muito de competição, mas não encontraria motivação para participar em tantas provas, como as que já participei, se fosse sem os amigos Bruxos Runners.
AW- Para além da corrida pratica mais algum desporto?
CH- Sim. Arte marcial, Kenpo.
AW- Pensa que correr tem envolvido muito poder da mente ou é só físico?
CH- Para correr é preciso gostar. Se falamos em treino corrida de manutenção, sem a componente competição, no início pode haver umas pernas doridas, algum ritmo cardíaco mais acelerado, mas depois o corpo adapta-se desde que haja um pouco de vontade. Quando falamos em competição, o físico só, é muito pouco, não chega, é preciso mesmo muito poder da mente. As dores, o esforço, o trabalho é feito todo o ano, “todos os dias”. Claro que há o descanso e os intervalos de treino. Quando se gosta e quer, não importa se chove, se está frio, se é verão ou inverno. A mente comanda sempre mais que o corpo. Fisicamente podemos estar muito bem e em excelente forma, mas se não houver vontade, o corpo não vai, não reage.
“Experimentei” uma prova de 30 km, com uma “queda feia” aos 15km. O assertivo, seria depois de ter sido assistida pelos bombeiros, desistir, mas a vontade de terminar foi mais, mas muito mais, que a dor! Terminei a prova e fui ao hospital, com paragem obrigatória por 15 dias!!!
AW- Qual o “cenário” por onde mais gosta de correr?
CH- Gosto muito de velocidade, estrada. Mas depois de experimentar a corrida Trail Running, a montanha, a floresta, a natureza é sem dúvida o cenário no qual estou “viciada” e onde me sinto rendida e em plena sintonia.
AW- Qual o conselho que pode dar a quem deseje começar a correr?
CH- Em primeiro lugar ter consciência de que fisicamente está tudo alinhado e não há impedimento para a corrida. Se possível fazer exames adequados. Eu pessoalmente, recorro também à osteopatia e ao Shiatsu, duas áreas que se complementam no tratamento físico. São alguns cuidados que previnem lesões e ajudam ao bem-estar. Deve iniciar devagar sem grandes exigências, com paragens se necessário para caminhar e ir marcando objetivos, distâncias, tempo, velocidade que se saibam possíveis de cumprir, tudo com tempo e paciência para concretizar o que se propõe. Juntar-se ao grupo ou convidar alguém que possa acompanhar, a motivação é fundamental. Um outro aspecto importante é a aquisição do equipamento, falo mais precisamente dos ténis. Conforme o tipo de corrida e passada, o meu conselho é o de solicitar ajuda de alguém entendido. Depois como diz um amigo, e não menos importante…” É por um pé na frente do outro e deixar-se ir!” Eu acrescento, sempre a sorrir, usufruir e aguardar o “milagre” que a corrida provoca ao fim de alguns treinos!!
AW- Para si, tem importância a roupa que leva para correr? Acha que é possível aliar conforto e estilo mesmo a fazer desporto ou é pouco relevante?
CH- O importante é mesmo o conforto e adaptação do equipamento ao desafio em que vou participar! Se a prova é montanha, ou tem passagem em água, se tem vegetação mais densa… se há cordas na prova… se vai chover ou estar calor, tudo tem influência na escolha. Algumas peças são obrigatórias em prova, por ex.: o corta vento, ou impermeável. A seleção dos ténis é fundamental! Procuro sentir-me sempre bem com a roupa que escolho, sem gastar muito, não é necessário ir ao mais caro, gosto de conjugar as peças que vou usar, de as usar ao meu estilo. As escolhas são feitas com atenção à qualidade, preço e conforto.
AW- Como está a conseguir colmatar na fase que vivemos as restrições ao desporto?
CH- Costumo dizer que sou privilegiada em muitas situações da minha vida, graças a Deus! Consigo treinar em segurança, por agora estou com os treinos em dia! Moro fora da vila, numa zona mais isolada, a minha casa é rodeada por terrenos e vinha. Há caminhos de terra batida, os treinos são divididos com treinos mais difíceis sobe e desce, outros menos exigentes em zonas planas que raramente me cruzo com alguém. Tenho aulas ao fim do dia via internet uns dias de Spinning outros de Kenpo.
AW- Como termina esta frase? “Para mim a corrida é ..."
CH- Para mim a Corrida é liberdade, felicidade, cura e superação!
Quem está com vontade de começar a correr ficou motivado? Espero que sim.
Tenho seguido a Célia por Facebook, que é o que nos resta agora, mas fiquei com muita vontade de a conhecer pessoalmente, se calhar até já me cruzei com ela agumas vezes mas sou um pouco distraída. Desde já, fica marcado um novo desafio com a Célia, mas da próxima vez para falar sobre ...
Bjs